domingo, 5 de março de 2017

Velha Roupa Colorida

Outro dia, estava eu ouvindo "Velha Roupa Colorida", chorando horrores *com as mãozinhas no coração* enquanto balançava a cabeça afirmativamente  para tudo que eu achava que Belchior queria dizer com o refrão *aumenta o som que é rock, DJ*:

No presente a mente, o corpo é diferente
E o passado é uma roupa que não nos serve mais
No presente a mente, o corpo é diferente
E o passado é uma roupa que não nos serve mais

Daí que hoje um amigo me mandou um link para que eu lesse o texto de estreia dele na blogosfera, e, por acaso, eu reencontrei este meu blogue que nasceu e morreu há seis anos sem fazer muito alarde na internet, Graças a Jah. E a primeira coisa que pensei foi "haja talento para passar vergonha nesta vida, viu, fia". A segunda primeira coisa que pensei foi "MEU DEUS, COMO FAZ PRA DELETAR O MEU BLOGUE TOSCO AGORA? PESQUISAR".

Aí comecei a ler os posts desta que agora me parece uma longínqua época, o ano de 2011,  ("ah, que nada, Renata, são só seis anos, nem faz tanto tempo assim" diria a agradável coleguinha), e fiquei aloka da problematização, aloka da revisão dos desvios gramaticais (de quem estudou a vida toda em escola pública e chegou até a faculdade de Letras sem dominar a norma culta que seis consideram pacas), enfim, aloka depreciativa de tudo que os dois arquivos deste blogue podem revelar sobre o funcionamento da cabeça da Renata de 19 anos prestes a completar 20 outonos de vida . 

E aí ri uma porrada de risos lembrando de todos os meus equívocos, os meus preconceitos, os meus sonhos, os meus míseros acertos em 2011, 2010, 2009, 2008... e é aquele ditado, né, mores, quando me espalho, ninguém me junta. Eu me empolguei numa grande retrospectiva e fiquei mais um tanto de tempo lembrando de quem eu fui, do que gostava, por onde e com quem andava e de como tudo isso já não cabe mais na versão Renata que está escrevendo agora. 

Depois de remoer vários episódios vergonhosos do passado (velhos hábitos nunca morrem infelizmente), BTW "orraaaaaaa quanta mudança, hein, dona Renata?", porque, em vez de passar a noite inteira (pra não dizer noites bem plurais) me sentindo um exemplar do que há de mais ridículo na minha espécie (o que sempre foi a regra da gerência), eu abri espaço para que um senhor orgulho besta das coisas que eu superei no passado viesse cumprimentar a Renata de hoje. E esse orgulho besta bateu forte *high five* não só por eu ter sobrevivido a todas as merdas que vivi, mas também por ter conseguido aprender um montão de coisas durante as minhas andanças. 

Então, parei de ridicularizar a versão paia da Renata do passado, olhei com mais carinho e cuidado para quem eu era, olhei com mais respeito para minha trajetória apesar dos erros mais bizarros que cometi. Fiquei com vontade de agradecer à Renata do passado por ter enfrentado, bem ou mal, todos os desafios que surgiram, por ter se exposto e dado a cara tapa em diversos momentos para que eu pudesse aprender, ainda que de forma dolorosa, umas boas lições. E foi aí que *toca Gilberto Gil, DJ*: a paz invadiu o meu coração e mudou tudo.

Constatei que batalhei muito e continuo batalhando sem descanso (pq isso é uma labuta diária, trabalho de formiguinha mesmo) para aperfeiçoar a versão de ser humano que sou. É aquele ditado (parte II), né, mores, "bora construir todo dia uma versão de serumaninho melhor do que a Renata de ontem e pior do que a Renata de amanhã" para que nunca falte #foco #força e #fé ao longo da caminhada, porém meu pai Paulinho da Viola na voz de Marisa Monte sempre me dizia "minha filha, tome cuidado! Quando penso no futuro, não esqueço o meu passado".

E afetada com tudo isso, BTW (o retorno), se o passado é uma roupa que não nos serve mais, pelo menos para mim, hoje, foi importante lembrar que essa roupa já me serviu um dia, e que seus préstimos forjaram a Renata que aqui se apresenta hoje.

No final das contas, a vontade inicial de deletar o blog passou. Muito distante disso, eu cliquei no ícone "nova postagem" e comecei a registrar esses sentimentos (talvez até confusos, mas reais e intensos**) sobre quem eu era com a esperança de que um dia eu aprenda a olhar para quem eu sou hoje com o mesmo carinho e respeito que hoje eu consigo olhar para a minha versão babaca do passado. Mas também espero que, daqui a seis anos, a Renata do futuro lembre da minha versão do presente como se eu fosse a velha roupa colorida cantada pelo Belchior, guardada, com açúcar, com afeto, na gaveta emperrada do meu guarda-roupa.

**espero que os racionais seja uma banda menos machista agora 




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